Mônica Serra fez aborto(?). Quem faria?

Mônica Serra fez aborto aos 4 meses de gravidez http://bitURL.net/ap53http://bitURL.net/ap54. Eu ainda n tinha visto.


Isso aí em cima coloquei no Twitter hoje. Ainda não sei o quanto de verdade tem nisso – até porque a assessoria da campanha de Serra já desmentiu a moça. E me lembrei que não tenho uma posição fechada e imutável sobre a questão. Resolvi refletir escrevendo e estou compartilhando com vocês, pegando uma “licença poética” para a falta de dados e comprovações, como minha essência jornalística manda fazer.

Sou cristã e assim acredito que ninguém pode acabar com uma vida. Nem mesmo com a própria. Sou simpatizante do espiritismo (ou espírita-não-praticante, se é que alguém pode ser de uma religião sem praticá-la) e acredito que antes mesmo de ser concebida, a criança já tem uma alma, uma vida, que está encaminhada àquela mãe. Desse modo, sou contra o aborto enquanto homicídio doloso, aquele com intenção de matar.

Porém, seguindo as mesmas linhas cristãs, não posso julgar quem faz, fez ou fará um aborto. Até julgo “um pouquinho”, mas sei que é tão errado fazer isso quanto aceitar que se mate alguém por motivo X ou Y. O problema é que um aborto não envolve apenas uma possível vontade consciente de matar um bebê – mais do que isso, o próprio filho. As questões podem ser muitas e por vezes demasiadamente cruéis, como um estupro violento ou uma criança-vegetal. Ora, quem de nós, tão cristãs e tão corretas, não ficaria extremamente abalada ao saber que, por exemplo, está ali na sua barriga um fruto não de um amor, mas de um trauma de um estuprador que pode ter feito outras violências e deixado sérias sequelas? E ainda por cima ter deixado na criança a semelhança física que vai fazer você lembrar dele sempre que olhar pra ela? Ou ainda quem não ficaria à beira do desespero ao saber que a criança não nascerá saudável, que terá poucos meses de vida e nesse tempo não vai falar nem andar porque nascerá sem cérebro? Há ainda diversas outras questões, como abuso por pais e outros parentes, risco extremo de vida para a mãe, entre outras.

Obviamente, nós cristãos sabemos que nada acontece sem que Deus permita, sem que estejamos “pagando” ou “nos purificando” ou ainda “nos elevando” com uma provação como essas. Mas mesmo nós, com nossas famílias amorosas, nossas condições de vida confortáveis e nossa formação cristã, sentiríamos um duro golpe em uma dessas situações. Você, principalmente se for mulher, feche os olhos e se coloque por um minuto em uma situação como essa.

De outro lado, está a questão de apoio legal do Estado – que, diga-se de passagem, é laico. Se o aborto é clandestino, as chances de fazer mal à saúde da mulher ou até matá-la aumentam muito. Se legalizado, pode servir de “incentivo”. O que fazer então? Eu não sei o que fazer quanto à legalização. Talvez a criminalização quando ficasse provado que a mulher tem condições físicas e psicológicas de ter a criança ou que a doação para a adoção também fosse impossível. Que critérios seriam esses? É outra discussão.

Mas sei que, como qualquer coisa no Brasil, deveríamos cuidar do que está errado antes de inventar novas preocupações (vide a questão do veículo leve sobre trilhos – não temos ferrovias nem metrôs que prestem, mas queremos trens-bala). Ou seja, nossas adolescentes não têm educação sexual séria nas escolas. A atenção médica pública é uma piada. O planejamento familiar e o suporte psicológico são inexistentes (ou apenas quantitativos para encher relatórios). Cidadania é algo ainda fora do alcance da maioria. Ao lado disso, a despeito do poder midiático da Lei Maria da Penha, as delegacias não resolvem – e muitas vezes atendem mal – os casos de violência contra a mulher. Será que se conseguíssemos elevar os níveis de eficácia disso tudo a 75% teríamos tanto problema com aborto? Sim, claro, a discussão sobre a legalização ainda existiria, mas sobre um problema muito menos letal (para mães e filhos).

Enfim, cabe a nós, como cidadãos, não só estar atentos aos debates que podem mudar as regras do país mas também à boa execução do que já é lei e não funciona.
Mônica Serra fez aborto(?). Quem faria?

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